EDUCAÇÃO
Diário de um Professor
A escola é o reflexo de uma gestão. Se a escola vem sendo alvo de inúmeros
exemplos de indisciplina, alguém está falhando e eu, felizmente ou não, culpo a
direção escolar e, por conseguinte, resvala no professor. Antes de julgar o meu
pensar, acompanhe comigo. Se a direção está jogada e não há ninguém que
respalde o professor fora da sala, o aluno saberá disso e o enfrentamento é
compulsório. Para o professor se sentir “seguro” em sala é necessário acreditar
na direção. Saber que todos estão caminhando juntos para uma única direção: o
sucesso do aluno.
Já vi professores sendo agredidos verbalmente e fisicamente, mas o que
acontece? A direção vem colocar “panos frios” e ao invés do agredido ir até uma
delegacia e fazer um Boletim de Ocorrência, ele deixa para lá. Fazendo com que
a bola de neve se expanda. O aluno agressor é como marido agressor, uma vez que
levanta a voz para um educador e nada acontece, isso se multiplicará e o pior
pode acontecer. Por isso culpo a direção! Para terminar o meu argumento sobre a
direção, trago aqui exemplo clássico. Já vi professor colocar o aluno para fora
da sala e o diretor colocá-lo para dentro e o que acontece? O aluno volta com
mais intensidade e confirmará que ali, dentro da sala, quem manda é qualquer
um, menos o professor. Lembrando que os demais alunos observam e, isso se multiplica
dentro da sala, até o momento que o profissional não conseguirá dar aula e chegamos,
também, a outra cena clássica: o professor abandona a sala. Quando chega a este
ponto, o professor pode esquecer-se daquela turma, porque controle sobre ela
não terá mais. Na verdade, nunca teve! Para concluir, quando o aluno tem
respeito pela direção, quando o “ameaçar” de colocá-lo para fora, ele vai
repensar em segundos e ficará quieto e, muitas vezes, irá até pedir desculpas.
Mas vamos ao que interessa. Em muitas escolas onde trabalhei e fui consultor
educacional, a indisciplina é sempre uma questão levantada. Na verdade, é o
“problema” central de muitas escolas. Confirmo que este fenômeno, que não tem
uma fórmula para diminui-la ou exonerá-la, é específico de nossa sociedade,
tendo em vista que não há mais “valores” sendo trabalhado no núcleo familiar e
não há referência específica para que ele, o aluno, siga. A escola, para os
alunos virou um meio de conversar e bater papo; para os pais, um lugar para
deixar o filho, quanto mais tempo melhor e, para os governantes, um depósito de
crianças e adolescentes. Outra situação que agravou a indisciplina em sala é
que os pais “deixam” seus filhos com mais liberdade, os mesmos escolhem desde
pequenos, o que quer comer, vestir e ir, quando chega na escola e o professor
indica o lugar que ele deve sentar, vem o confronto – “nem minha mãe manda em
mim, por que você mandará? ” – O educador, já cansado de humilhações, revida
com nervosismo e o impacto de visões acontece e a agressão se confirma.
Eu já fui agredido verbalmente, mas nunca fisicamente. Trabalhei com
crianças e adolescente, este último é a clientela que eu mais me familiarizo, e
é a clientela que mais agride professores pelo Brasil. Mas o que eu faço? Como
eu diminuo a indisciplina em sala? Em uma escola que trabalhei, os alunos
ficavam aglomerados em grupos dentro de sala, mas quando eu apontava à porta,
eles imediatamente arrumavam as carteiras e muitos professores me perguntavam
como eu conseguia fazer isso. Respondia com muito prazer.
Os estudantes gostam de ser disciplinados. Querendo ou não, quando você vem
com visões diferentes, da que eles estão acostumados, vão reclamar, mas no fim,
seguem as regras, mas sabe por quê? Por causa do primeiro dia de aula ou das
intervenções efetuadas ao longo do ano. Deixo já bem explicitado que ALUNO SABE
QUANDO O PROFESSOR CONHECE O SEU CONTEÚDO. A primeira coisa para diminuir a
indisciplina é mostrar ao aluno que você é importante para a vida escolar dele,
mas não fale isso, mostre com as ações: chegue à sala com a aula totalmente
preparada e com curiosidades que possam integrar no conteúdo. Deixe-o perceber
que você tem conhecimento e domínio da sua disciplina, caso contrário, ele
entenderá que a sua presença não é significante e em sua aula, eles conversarão
e muito. Quando o educando proferir que você é “boazinha ou bonzinho” saiba que
ele está dizendo que você não é professor ou professora. Em todas escolas onde
trabalhei, era chamado de “chato”, mas os alunos me respeitavam por motivo de
saber o meu conteúdo e sempre diziam: o senhor explica bem, mas é chato. O
chato é aquele que não os deixa fazer o que bem entendem e cobro o que é
necessário. Mas para não haver atritos, no primeiro dia de aula, deixo bem
claro várias situações:
1º – Sou professor, e não gosto que me chamem por “ou” como muitos estão
acostumados ou “tio”.
2º – Ninguém está bem todos os dias, quando não estiverem, por favor,
avisem-me, pois não sou “bruxo” e nem “pai Diná” para saber o que está se
passando nas nossas vidas. Somos seres humanos e todos os dias acontecem “N”
coisas. Este dia, eu deixarei em “paz”.
3º – Eu sou professor e meu papel aqui é ensiná-los ou direcioná-los para
conseguirem chegar aos sonhos de vocês. Não sou amigo. Sou professor. Mesmo
sendo pública a escola, vocês me pagam de forma indireta e cumprirei o meu
papel.
4º – Não me enfrente, às vezes, eu sou meio louco. Se eu fizer algo que não
os agradou, engula e depois converse comigo. Saiba que professor também é ser
humano e erra.
5º – Estou ali para ajudá-los e não para puni-los, mas não sou milagreiro,
quem quer, vamos juntos. Quem não quer, vamos juntos só que com mais dor!
Falo sobre tarefas e que eu não coloco aluno para fora, caso ele queira
sair, poderá. Não questionarei, mas o mesmo deverá aguentar as consequências.
Lembrando que tudo que é conversado em sala, deverá ser seguido. Custe o que
custar! Por isso, ao apresentar suas “normas” converse com o seu coordenador e
verifique se a escola está em consonância com o seu “pensar”.
Como pronunciei acima, eu não coloco aluno para fora de sala, mas já fiz
isso. Quando isso acontece, saiba que eu sei que terei respaldo da direção em
que me engato e é o meu último recurso. Mas, antes de mandá-lo, chamo o
inspetor de aluno ou o próprio diretor e peço para que o leve. Assim que
possível, farei a Ocorrência escolar e conversaremos juntos.
Agora entenda o processo:
Se eu identificar que o aluno está meio nervoso, não me direciono a ele e
não chego perto dele. Caso ele participe das aulas, elogio-o para mostrar que
estou o vendo e que o nosso atrito passou.
A escola precisa ter um procedimento para assegurar e “proteger” o
professor. A Ocorrência padrão de Advertência é fundamental. Não se manda aluno
para fora sem justificativa. Muitos diretores ouvem os alunos, e se não há uma
Ocorrência escolar com explicação embasada, quem ficará em “maus lençóis” é
você, professor.
Caso não consiga fazer a ocorrência em sala pelo nervosismo, peça para o
inspetor ficar em seu ambiente, tome uma água e preencha a folha.
Exemplo:
O aluno X, matriculado na série/ano Y, foi encaminhado à direção
para conseguirmos resolver o problema da indisciplina. O educando está com
conversas paralelas dificultando seu avanço no processo de ensino –
aprendizagem e atrapalhando o direito de aprender dos colegas, garantidos por
lei. Antes de enviá-lo, conversei com o mesmo em aulas anteriores. Registrei a
indisciplina no campo de observações da caderneta e não foi resolvido o
problema. Peço que a direção, junto à coordenação, realize o procedimento
cabível para conseguirmos alcançar o resultado em que somos comprometidos:
fazer o aluno aprender.
Como eu disse, o “mandar” para fora é em último caso. Registre sempre na
caderneta se o aluno está realizando as atividades em sala, se o mesmo está
entregando as tarefas e por fim, converse com ele, mostrando os pontos fortes
dele: diga que ele é inteligente. Pergunte o que ele quer ser e verifique uma
maneira de mostrar que a escola quer que ele consiga chegar onde quer. Caso não
resolva: encaminhe para a direção, sempre respaldando que o seu interesse é que
ele aprenda!
O professor pode pedir para o aluno se retirar e o diretor pode colocá-lo
para dentro da sala novamente. Este último alega que a legislação diz que o
aluno tem o direito de aprender, mas esta ação faz com que o professor saia sem
respaldo e ocasionará problemas maiores com a equipe e com os alunos. Dando a
ideia de que ele, o aluno, pode fazer o que quiser. Lembre-se professor, QUEM
MANDA NA SALA É VOCÊ! Direção e coordenação não mandam na sala. Ali, você é
autoridade máxima e se pedir para sair, sempre mande um inspetor acompanhá-lo à
direção. Nunca o deixe sair sozinho, pois se algo acontecer com este indivíduo
fora da sala, você será responsabilizado. Já vi em algumas escolas do aluno não
se retirar. Ele, enfurecido, irá mostrar que sai a hora que quiser e o
professor não manda lá, na sala, e nem nele. Caso isso ocorrer, chame o
inspetor, à direção. Ele insistirá em ficar: se o aluno for menor, chame o conselho
e o responsável (a escola deverá ter no mínimo dois telefones para contato com
a família). A aula vai parar, mas não “arrede” o pé. Com a chegada do conselho
e o mesmo insistir em ficar, chame a polícia. Caso aja ameaça verbal, aproveite
e faça o Boletim de Ocorrência. No registro, peça para o policial colocar que
você está cumprindo com o seu ofício de professor e o mesmo foi alertado
diversas vezes, se possível xeroque as escritas da caderneta e as ocorrências
escolares e fixe no Boletim, o Juiz gosta de chamar os jovens tendo uma
justificação plausível.
Muitos professores são agredidos por diversos fatores já mencionados por
aqui, mas caso o aluno agredi-lo fisicamente, quem disse que você não pode
revidar? Todo cidadão, em ameaça à vida, pode se defender. Lembre-se, você não
pode começar a agressão. O professor tem de se defender. Se for agredido (não
deixe chegar neste extremo), se defenda. Após faça boletim de ocorrência:
agressão ao funcionário público. Chamo atenção aqui ao celular: a escola precisa
construir medidas para evitar o uso, pois nesta situação o aluno grava apenas
uma parte da agressão física e vendo o professor se defendendo é comum a
sociedade proteger o menor. Vamos resguardar o professor, direção!
Em uma escola, vi um aluno agredir um professor e diretor, mesmo com a
polícia ali, por isso é bom ter o conselho tutelar, se for menor. Além disso,
quebrou carteira no nervosismo. E aí? Quem paga? Foi outra dúvida de uma
educadora. A escola faz um boletim de ocorrência em detrimento da depredação do
patrimônio público e um levantamento dos prejuízos. Reúna o conselho de escola,
veja como ele é importante, relate o ocorrido e cheguem a uma solução do que
fazer com o aluno: agressão física ao professor pode ser dada a transferência
compulsória, mas lembre-se, são necessários vários registros. Mande ao Juiz da
vara da infância e da juventude e o mesmo intimará o responsável para pagar o
prejuízo. Já vi alunos que pagarão com esta medida.
Se você é gestor e sua escola sofre com inúmeros acontecimentos de
indisciplinas e desrespeito ao funcionário, é preciso verificar com a equipe
escolar e coordenação o que está acontecendo. Após, pontuar os vândalos e os
indisciplinados. Após conversas e registros, troque-os de turma, sempre tomando
decisão com a presença do responsável, após, se não resolver, de período e por
fim, a transferência compulsória para outra unidade escolar.
Se você é professor, em caso de indisciplina grave, registre na caderneta.
Se for desrespeito ao funcionário, faça boletim de ocorrência. Nunca grite e
nunca escreva na lousa com as costas totalmente virada para os alunos. Fique na
posição de escrever e observar. Se for agredido, se defenda. Registre tudo e
siga as normas estabelecidas da equipe. Todos precisam falar “a mesma língua”.
Se você é coordenador, identifique o professor que não consegue “colocar
limites” em sala. Entenda o que acontece e o auxilie para evoluir em sala.
Para toda a equipe, se a indisciplina é culminada pela maioria dos alunos, como vandalismo, pichações e desrespeito, saiba que a escola está sendo desvalorizada. O papel da escola é transformar, se acontece tudo isso, não está fazendo o seu papel. Já mostrei em alguns artigos sobre como conseguir transformar. Já mostrei que funcionou em escolas de periferias. O aluno precisa entender que ali é um espaço de respeito e paz, não de agressões e desrespeito. Se tiver dúvida, leia meu artigo (a escola transformadora).
A indisciplina é comum, o que não é comum é o desrespeito para com o
professor. Se isso acontece, algo está errado. Falo sempre isso nas minhas
consultorias em escolas. Está na hora de enxergar, agir e confrontar!
7 erros do professor em sala de aula
Confira como evitar atividades sem foco ou morosas,
que roubam um precioso tempo da aprendizagem
1.
Utilizar o tempo de aula para corrigir provas
O problema Deixar a turma sem fazer nada ao corrigir exames ou propor
que os alunos confiram as avaliações.
A solução Nesse caso, o antídoto é evitar a ação. Corrigir provas é
tarefa do educador, para que ele possa aferir os pontos em que cada um precisa
avançar. E o momento certo para isso é na hora-atividade.
2.
Exigir que todos falem na socialização
O problema Durante um debate, pedir que todos os estudantes se
manifestem, gerando desinteresse e opiniões repetitivas.
A solução O ideal é fazer perguntas como "Alguém tem opinião
diferente?" e "E você? Quer acrescentar algo?". Assim, as falas
não coincidem e os alunos são incentivados a ouvir e a refletir.
3.
Não desafiar alunos adiantados
O problema Crianças que terminam suas tarefas ficam ociosas ao
esperar que os demais acabem. Além de perder uma chance de aprender, atrapalham
os colegas que ainda estão trabalhando.
A solução Ter uma segunda atividade relacionada ao tema da primeira para
contemplar os mais rápidos.
4.
Colocar a turma para organizar a sala
O problema A arrumação de carteiras e mesas para trabalhos em grupo
e rodas de leitura acaba tomando uma parte da aula maior do que das atividades
em si.
A solução Analisar se a mudança na disposição do mobiliário influi, de
fato, no aprendizado. Em caso positivo, vale programar arrumações prévias à
aula.
5.
Falar de atualidades e esquecer o currículo
O problema Abordar o assunto mais quente do momento por várias
aulas, o que pode sacrificar o tempo dedicado ao conteúdo.
A solução Dosar o espaço das atualidades e contextualizar o tema. Em
Geografia, por exemplo, pode-se falar de deslizamentos de terra relacionando-os
aos tópicos de geologia.
6.
Realizar atividades manuais sem conteúdo
O problema Pedir que os alunos façam atividades como lembrancinhas
para datas comemorativas sem nenhum objetivo pedagógico.
A solução Só propor atividades manuais ligadas a conteúdos curriculares -
nas aulas de Artes, por exemplo, para estudar a colagem como um procedimento
artístico.
7.
Propor pesquisas genéricas
O problema Pedir trabalhos individuais sobre um tema sem nenhum
tipo de subdivisão. Como resultado, surgem produções iguais e, muitas vezes,
superficiais.
A solução Dividir o tema em outros menores e com indicações claras do que
pesquisar. Isso proporciona investigações mais profundas e dinamiza a
socialização.
Resta
lembrar que nem tudo o que foge ao planejamento é perda de tempo.
Questionamentos, por exemplo, são indícios de interesse no assunto ou de que um
ponto precisa ser esclarecido. "Para esse tipo de desvio de rota, vale,
sim, abrir espaço. Afinal, são atividades reflexivas e que auxiliam na
aprendizagem", afirma Cristiane Pelissari, formadora da Secretaria de
Estado da Educação de São Paulo.
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