As aulas de
poesia para crianças devem ser lúdicas. Será necessário fazer ênfase nos
efeitos de sonoridade, de cores, de imagens, de movimento. O importante é que a
criança inicie o processo sem limitações, sem bloqueios. Paradigmas rígidos
tolhem a criatividade.
Quem for ensinar deverá ser paciente, pois nem todos os alunos/crianças terão habilidade poética. A
finalidade das aulas não é formar poetas, mas despertar o espírito poético.
Orientar os alunos para que possam perceber a poesia e (para que possam também)
exprimir o sentido estético que os ajudará a crescer como seres humanos e a
realizar-se como pessoas.
A poesia
para crianças pode começar com “jogo de palavras”. O educador coloca uma lista
de palavras que possam rimar e deixa que os alunos escolham livremente.
Por exemplo:
Arminho – Burburinho – Carinho – Adivinho – Ninho – Cozinho – Pergaminho -
Espinho - Padrinho – Cavaquinho - Passarinho – Sobrinho – Alinho – Anjinho –
Armarinho - Engatinho – Desalinho – Marinho - Moinho – Pinho – Focinho –
Colarinho.
Ainda que os
trabalhos sejam simples como: “O gatinho pisou um espinho”, ou: “O
passarinho está no ninho”, o professor não julgará os poemas, só estimulará
a produção poética. Aos poucos, as crianças vão se encantando com a sonoridade
das rimas e com a possibilidade de criar poemas.
O educador
precisará de muita paciência e de bom humor. Quando eu era estudante, um
professor de matemática, ainda jovem, mas careca, solicitou aos alunos que
escrevessem o que achavam dele como professor. Alguns colocaram elogios, outros
criticaram. Mas teve um aluno que escreveu: “Céu sem nuvens / ninho sem
pássaros / cabeça sem cabelo”.
Os colegas
riram, o professor ficou zangado e o criativo poeta foi encaminhado à
diretoria. Mas não podemos negar que ele foi criativo. A poesia contribui para
estimular a criatividade, ajuda na aquisição da linguagem, enriquece o
vocabulário, contribui para aumentar a sensibilidade estética, exterioriza
emoções, além de desenvolver a capacidade de leitura e compreensão.
Exercícios
– "Primeira Aula": Sensibilizar
A primeira aula deve ser quase uma brincadeira. O educador pode começar com a
leitura de um poema livre ou trova. Imediatamente escreve no quadro e faz com
que as crianças leiam em coro duas ou três vezes.
Os alunos
copiam o poema no caderno. Depois o professor assinalará algumas palavras do
poema e solicitará às crianças que procurarem sinônimos ou antônimos, ou
palavras que possam substituir a palavra assinalada. Ou ele mesmo proporcionará
uma lista de sinônimos, antônimos e palavras afins para que as crianças
utilizem as palavras de que mais gostem. Não se preocupar com aspectos teóricos
como métrica.
O tom será
de divertimento para que as crianças se aproximem da poesia sem medo e sem
bloqueios. Nesse primeiro momento, o importante é que elas se aproximem do
poema. Que apreciem a sonoridade.
Por exemplo:
O professor pode trabalhar o poema da página 33 do livro “O Dr. Pingüim e a
Mensagem de Santo Agostinho”, de minha autoria (escolhi um poema de minha
autoria porque é preciso autorização escrita para colocar poemas de outros
autores).
A Sucuri
é uma cobra muito grande / que só sabe fazer ssssshhhh / A Sucuri é uma cobra
muito feia / que só sabe carregar uma lancheira / Ela está nas aulas de
Filosofia, mas acha que são aulas de Anatomia.
Trabalhar
com algumas palavras do poema. Dar liberdade para que os alunos troquem as
palavras que desejem. Por exemplo: sucuri - mudar para outro nome de cobra como
Coral, Jararaca, Cascavel, Cobra Cipó; grande - procurar outra palavra como
enorme, gigante, poderoso, vasto etc., ou antônimos: pequena, mínima, anã,
nanica; carregar - levar, transportar, assegurar, sobrecarregar; Anatomia - o
aluno pode colocar outras matérias como Geografia, Biologia, Aritmética etc.
"Segunda
Aula": Percepção
É muito importante treinar o olhar poético das crianças. Peça aos alunos que
olhem pela janela. Como está o céu? Tem nuvens? Tem sol? Chove? Tem vento? Da
janela dá para ver uma árvore? Um passarinho? Um inseto?
Solicitar
que escrevam a experiência em um poema pequeno de duas ou de três linhas. Não
exigir métrica. Depois, falar para as crianças que observem a natureza todos os
dias e, se sentirem vontade, que escrevam poemas.
O importante
não é só escrever um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da
vida. A mente se abre para a beleza, e isso também é poesia. É importante
solicitar que registrem, no mínimo, uma vez na semana, em três linhas curtas, o
que eles observarem.
Devem só
falar do que viram, mas sem dizer: eu acho, eu vi, eu percebi, porque...
Repetimos que o propósito não é só inventar um poema, mas adquirir o pensar
poético, a visão poética da vida, despertar a sensibilidade estética.
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